Avaliação do Tônus Muscular: Tipos, Escalas e Aplicações Clínicas
Avaliação do Tônus Muscular: Tipos, Escalas e Aplicações Clínicas
A avaliação do tônus muscular é uma etapa essencial na prática fisioterapêutica, especialmente em pacientes com distúrbios neurológicos, ortopédicos ou pediátricos. Entender os diferentes tipos de tônus, reconhecer alterações e aplicar escalas padronizadas permite ao fisioterapeuta planejar intervenções mais precisas e eficazes. Neste artigo, abordamos os principais conceitos relacionados ao tônus muscular, seus tipos e as escalas mais utilizadas na prática clínica.
O que é Tônus Muscular?
O tônus muscular é definido como a resistência passiva oferecida por um músculo ao seu alongamento. Ele resulta da interação entre as propriedades viscoelásticas do tecido muscular e a atividade neural reflexa. Um tônus normal permite a manutenção da postura e a execução de movimentos coordenados. Alterações nesse equilíbrio são comuns em condições neurológicas e musculoesqueléticas.
Classificação dos Tipos de Tônus Muscular
Normotonia: tônus considerado dentro dos parâmetros normais. Os músculos apresentam resistência adequada ao movimento passivo.
Hipotonia: redução do tônus. Os músculos ficam mais flácidos, oferecendo pouca ou nenhuma resistência ao movimento. Pode ser observada em síndromes genéticas (ex: Síndrome de Down), lesões do cerebelo ou do motoneurônio inferior.
Hipertonia: aumento do tônus muscular. Se divide em dois padrões clínicos:
Espasticidade: tônus aumentado de forma velocidade-dependente, comum em lesões do trato corticoespinal.
Rigidez: resistência constante ao longo de toda a amplitude de movimento, característica de doenças extrapiramidais, como o Parkinson.
Escalas de Avaliação do Tônus Muscular
A utilização de escalas padronizadas facilita a mensuração objetiva do tônus e permite a comparação ao longo do tempo. Abaixo, listamos as principais escalas utilizadas na fisioterapia.
1. Escala de Ashworth Modificada
Essa é uma das escalas mais utilizadas para avaliar espasticidade. Ela mede o grau de resistência ao movimento passivo.
Como aplicar:
O paciente deve estar relaxado e posicionado confortavelmente.
O fisioterapeuta move o membro afetado passivamente, aumentando gradualmente a velocidade.
Avalia-se a resistência sentida e atribui-se um grau conforme a escala:
Grau | Descrição |
---|---|
0 | Tônus normal (sem aumento) |
1 | Leve aumento no final do movimento |
1+ | Leve aumento por menos da metade da amplitude |
2 | Aumento mais marcado, mas o movimento ainda é fácil |
3 | Aumento considerável, movimento passivo difícil |
4 | Parte rígida em flexão ou extensão |
2. Escala de Tardieu
Mais sensível que Ashworth, essa escala considera a velocidade de movimento e o ângulo de resposta ao estiramento muscular.
Como aplicar:
Movimente o membro do paciente em 3 velocidades:
V1: lento (sem reflexo de estiramento)
V2: velocidade da gravidade
V3: o mais rápido possível
Registre:
R1: ângulo no qual ocorre a resistência súbita (clique)
R2: amplitude total do movimento passivo
Interpretação: Quanto maior a diferença entre R1 e R2, maior o componente reflexo (neural) da espasticidade.
3. Avaliação da Rigidez Muscular
Não há uma escala universal padronizada para rigidez, mas a avaliação clínica é baseada em dois sinais:
Rigidez em tubo de chumbo: resistência contínua ao movimento passivo.
Sinal da roda dentada: rigidez com oscilações intermitentes, como engrenagens, geralmente associada a tremores.
Como aplicar:
Solicite que o paciente relaxe.
Realize movimentos passivos lentos.
Avalie se a resistência é constante ou se há hesitações (roda dentada).
4. Avaliação da Hipotonia
Embora não haja escala numérica para hipotonia, o exame clínico permite sua identificação:
Sinais clínicos:
Flacidez muscular ao toque.
Amplitude de movimento passiva aumentada.
Reflexos miotáticos diminuídos.
Testes funcionais:
Teste do pêndulo: o joelho do paciente é estendido e liberado; se houver vários balanços livres, indica hipotonia.
Sustentação contra a gravidade: músculos hipotônicos não conseguem manter postura.
Importância Clínica da Avaliação do Tônus
A avaliação correta do tônus permite:
Identificação precoce de alterações neurológicas.
Planejamento adequado do tratamento fisioterapêutico.
Monitoramento da evolução do paciente.
Comunicação padronizada entre profissionais da saúde.
Além disso, entender se a hipertonia é espástica ou rígida influencia diretamente na escolha das abordagens terapêuticas, como inibição postural, técnicas de Bobath, uso de órteses ou mesmo encaminhamento para terapias medicamentosas.
Conclusão
A avaliação do tônus muscular é uma competência fundamental para fisioterapeutas que atuam com pacientes neurológicos, ortopédicos e pediátricos. Conhecer os tipos de tônus, aplicar escalas como Ashworth e Tardieu, e interpretar sinais clínicos de hipotonia ou rigidez é essencial para a condução segura e eficaz do tratamento. O raciocínio clínico aliado à padronização de medidas torna o atendimento mais preciso e centrado nas reais necessidades do paciente.
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