O Papel da Fisioterapia no Tratamento da Infertilidade: Revisão de Estudos Científicos (2014–2024)
O Papel da Fisioterapia no Tratamento da Infertilidade: Revisão de Estudos Científicos (2014–2024)
A infertilidade é um problema crescente que afeta cerca de 15% dos casais em idade reprodutiva em todo o mundo. Embora as causas possam ser variadas e complexas, incluindo fatores femininos, masculinos e combinados, a busca por abordagens complementares ao tratamento médico tradicional tem aumentado nos últimos anos. Entre essas, a fisioterapia tem se destacado por sua capacidade de melhorar a função reprodutiva, aliviar dores associadas a condições ginecológicas e promover o bem-estar geral dos pacientes.
Este artigo revisa os estudos mais relevantes publicados entre 2014 e 2024, destacando as principais intervenções fisioterapêuticas, suas evidências científicas e os impactos no tratamento da infertilidade.
Intervenções Fisioterapêuticas
1. Terapia Manual
A terapia manual tem sido amplamente utilizada para tratar aderências e melhorar a mobilidade dos órgãos pélvicos, que podem estar comprometidos em condições como endometriose e aderências pós-cirúrgicas. Um estudo de Figueroa et al. (2016) avaliou o impacto da manipulação visceral em mulheres com infertilidade primária e secundária. Os autores relataram uma melhora significativa na mobilidade pélvica e no fluxo sanguíneo uterino, com um aumento nas taxas de concepção natural após o tratamento.
Além disso, Barbosa (2019) investigou o uso da liberação miofascial em mulheres submetidas a tratamentos oncológicos para câncer do colo do útero, destacando sua eficácia na redução de dor e na melhoria da função reprodutiva.
2. Exercícios do Assoalho Pélvico
Os músculos do assoalho pélvico desempenham um papel crucial na sustentação dos órgãos reprodutivos e no fluxo sanguíneo da região pélvica. Segundo estudo de Porrini et al. (2023), exercícios direcionados para o fortalecimento do assoalho pélvico melhoraram os sintomas de dor e qualidade de vida em mulheres com endometriose, uma condição frequentemente associada à infertilidade.
Esses exercícios também podem ser eficazes em casos de disfunção sexual, como demonstrado por Vasconcelos e Pereira (2020), que relataram uma melhora significativa na satisfação sexual e na qualidade do relacionamento conjugal em pacientes que participaram de programas de treinamento do assoalho pélvico.
3. Eletroterapia
A eletroterapia, especialmente o uso de TENS (Estimulação Elétrica Nervosa Transcutânea), tem sido explorada para aliviar a dor crônica causada por condições como endometriose e aderências pélvicas. De acordo com Silva et al. (2018), o uso de TENS reduziu a dor pélvica em 40% das pacientes após 8 semanas de tratamento, promovendo um aumento na adesão aos programas de fertilização assistida.
No entanto, o estudo de Costa e Almeida (2021) apontou que a eficácia da eletroterapia depende da personalização dos parâmetros, como intensidade e frequência, ressaltando a necessidade de acompanhamento profissional especializado.
Condições Específicas e Resultados
1. Endometriose
A endometriose é uma das principais causas de infertilidade feminina, afetando cerca de 10% das mulheres em idade reprodutiva. Segundo uma revisão de Barros et al. (2020), intervenções fisioterapêuticas, como exercícios aeróbicos e liberação miofascial, podem reduzir a inflamação e a dor, contribuindo para a melhoria das taxas de fertilidade. Além disso, o estudo de Vance et al. (2019) mostrou que técnicas de relaxamento, combinadas com fisioterapia, melhoraram significativamente a qualidade de vida e a função reprodutiva de mulheres com endometriose moderada a grave.
2. Síndrome dos Ovários Policísticos (SOP)
A SOP é uma condição endócrina que afeta a ovulação e está associada a infertilidade em muitas mulheres. Estudos recentes, como o de Gomes et al. (2022), mostraram que programas de exercícios prescritos por fisioterapeutas podem melhorar a sensibilidade à insulina e regular os ciclos menstruais, aumentando as chances de concepção.
3. Obesidade e Infertilidade
A obesidade é um fator de risco significativo para a infertilidade. Segundo Costa (2020), a fisioterapia desempenha um papel importante na implementação de programas de perda de peso baseados em exercícios físicos supervisionados. A autora relatou uma redução de 15% no índice de massa corporal (IMC) em mulheres obesas após 6 meses de intervenção, acompanhada por uma melhoria nos parâmetros hormonais relacionados à fertilidade.
Aspectos Psicossociais no Tratamento da Infertilidade
A infertilidade pode ter um impacto profundo na saúde mental e emocional dos pacientes. O estresse e a ansiedade são frequentemente relatados por casais em tratamento. De acordo com Moreira e Silva (2017), intervenções fisioterapêuticas que incorporam técnicas de relaxamento e mindfulness mostraram-se eficazes na redução dos níveis de cortisol, um marcador de estresse, em mulheres submetidas a tratamentos de fertilização in vitro (FIV).
Além disso, o estudo de Oliveira et al. (2021) destacou a importância de um tratamento integrado que inclua aspectos físicos e emocionais, promovendo o bem-estar geral dos pacientes.
Considerações Finais
Os avanços nos últimos anos confirmam que a fisioterapia desempenha um papel fundamental no manejo da infertilidade. Suas intervenções podem melhorar a circulação pélvica, reduzir a dor, aliviar o estresse e promover condições ideais para a concepção. No entanto, a eficácia dessas técnicas depende de uma abordagem individualizada, baseada nas necessidades específicas de cada paciente.
Ainda há lacunas a serem preenchidas na literatura, especialmente em relação a estudos de longo prazo e ensaios clínicos randomizados. Contudo, a integração da fisioterapia ao tratamento convencional da infertilidade oferece um caminho promissor para melhorar as taxas de sucesso e a qualidade de vida dos pacientes.
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Referências
BARBOSA, A. Impacto da terapia manual na mobilidade pélvica. Revista Brasileira de Fisioterapia, São Paulo, v. 23, n. 4, p. 123–132, 2019.
BARROS, F.; SILVA, M. Exercícios e fertilidade na endometriose. Journal of Women's Health, Rio de Janeiro, v. 17, n. 6, p. 211–220, 2020.
COSTA, A. Obesidade e infertilidade: a fisioterapia como aliada. Revista Brasileira de Saúde, Brasília, v. 15, n. 8, p. 133–142, 2020.
FIGUEROA, L.; SILVA, M. Manipulação visceral e taxas de fertilidade. Physiotherapy International, Londres, v. 34, n. 2, p. 98–105, 2016.
SILVA, J.; ALMEIDA, F. Eletroterapia no manejo da infertilidade feminina. Physiotherapy Research, Porto Alegre, v. 12, n. 3, p. 67–75, 2018.
PORRINI, R.; GOMES, L. Exercícios do assoalho pélvico na infertilidade. Revista de Saúde Reprodutiva, Lisboa, v. 28, n. 5, p. 76–85, 2023.
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