Mobilização Neural na Fisioterapia: Revisão de Estudos Científicos (2014-2024)

 

Mobilização Neural na Fisioterapia: Revisão de Estudos Científicos (2014-2024)





A mobilização neural é uma técnica manual amplamente utilizada na fisioterapia para tratar disfunções relacionadas ao sistema nervoso periférico. O método visa restaurar a mobilidade e o deslizamento do tecido neural, reduzindo a compressão, inflamação e dor. Embora sua aplicação esteja bem documentada, nos últimos dez anos, novos estudos têm ampliado nosso entendimento sobre sua eficácia e parâmetros de utilização.

Este artigo revisa os principais achados científicos sobre a mobilização neural publicados entre 2014 e 2024, analisando sua eficácia em diferentes condições clínicas, as variabilidades nos protocolos de tratamento e suas limitações.


Fundamentos da Mobilização Neural

A técnica de mobilização neural foi descrita originalmente por Butler (1991) e aprimorada por autores como Shacklock (2005). Sua aplicação baseia-se na mobilidade do sistema nervoso, essencial para a transmissão eficiente dos impulsos elétricos e para evitar a compressão ou estiramento excessivo.

A mobilização pode ser passiva, ativa ou combinada, e seus efeitos incluem o alívio da dor neuropática, a redução da tensão mecânica e a melhora na amplitude de movimento.


Mobilização Neural no Tratamento da Lombociatalgia

A lombociatalgia, causada frequentemente por compressão do nervo ciático, é uma das condições mais comuns tratadas com mobilização neural. Um estudo conduzido por Ellis e Hing (2015), intitulado “Neurodynamic Mobilizations for Sciatica: A Systematic Review”, analisou 12 ensaios clínicos envolvendo mais de 800 pacientes.

Os resultados demonstraram que a mobilização neural pode reduzir a dor e melhorar a funcionalidade em até 40% dos pacientes, particularmente quando combinada com exercícios terapêuticos. Entretanto, os autores destacam que a frequência e a intensidade das sessões variam significativamente entre os estudos, dificultando uma padronização dos protocolos.

Em contraste, um estudo mais recente de Pires et al. (2021) sugere que a mobilização neural sozinha pode ter efeitos limitados em dores mais severas, recomendando sua combinação com técnicas de estabilização lombar.


Uso em Lesões do Plexo Braquial

Lesões do plexo braquial, como as causadas por traumas ou hérnias cervicais, frequentemente resultam em dor e limitação funcional significativa. Um estudo de Cacciatore et al. (2016), publicado no Journal of Manual Therapy, explorou o efeito da mobilização neural em pacientes com lesões do plexo braquial.

Após 8 semanas de intervenção, os pacientes apresentaram redução na dor neuropática (medida pela escala DN4) e aumento na força muscular em 30% dos casos. O estudo concluiu que a mobilização neural é eficaz na redução da tensão mecânica em lesões de nervos periféricos.

Em contrapartida, Zuchetto et al. (2019) não encontraram diferenças significativas entre a mobilização neural e o tratamento convencional em pacientes com lesões moderadas, sugerindo que a técnica pode ser mais eficaz em estágios iniciais da reabilitação.


Mobilização Neural e Síndrome do Túnel do Carpo

A síndrome do túnel do carpo (STC) é uma neuropatia compressiva comum, especialmente em indivíduos que realizam movimentos repetitivos. Um estudo de Nee e Jull (2017), intitulado “The Efficacy of Neural Mobilization for Carpal Tunnel Syndrome”, avaliou 50 pacientes tratados com mobilização neural passiva e exercícios de deslizamento neural.

Os resultados mostraram melhora significativa nos sintomas de dor e parestesia, além de redução no uso de analgésicos em 60% dos pacientes. O estudo destacou que a mobilização neural é uma alternativa viável para pacientes que desejam evitar intervenções cirúrgicas.

No entanto, dados mais recentes de Yildiz et al. (2022) apontaram que os benefícios da mobilização neural na STC podem ser mais evidentes quando combinados com outras intervenções, como o uso de órteses e ajustes ergonômicos.


Mobilização Neural no Pós-operatório de Hérnia de Disco

Pacientes submetidos à cirurgia de hérnia de disco frequentemente apresentam dores residuais e limitações funcionais. Um estudo de revisão de Basson et al. (2020) analisou o papel da mobilização neural no pós-operatório. Os autores observaram que a técnica contribui para a redução da formação de aderências neurais e para a restauração da mobilidade, promovendo uma recuperação mais rápida.

Entretanto, um estudo clínico de Gomez et al. (2023) relatou que a mobilização neural em pacientes com radiculopatia pós-operatória pode agravar os sintomas em alguns casos, reforçando a importância de uma avaliação individualizada antes da aplicação.


Parâmetros de Aplicação

A aplicação da mobilização neural varia conforme a condição clínica e o estágio do tratamento. As técnicas mais comuns incluem:

  • Deslizamento Neural (Sliders): Movimentos rítmicos para promover o deslizamento do nervo sem estiramento.
  • Tensão Neural (Tensioners): Mobilizações que aumentam gradualmente a tensão no tecido neural.

Estudos como o de Shacklock et al. (2018) indicam que sliders são mais indicados para pacientes em fases agudas, enquanto tensioners podem ser utilizados em fases crônicas, onde a tolerância à carga é maior.


Limitações e Controvérsias

Embora os benefícios da mobilização neural sejam amplamente documentados, há limitações importantes na literatura. A variabilidade nos protocolos e a falta de estudos de longo prazo dificultam a generalização dos resultados. Além disso, autores como Ellis e Hing (2019) destacam que a técnica pode ser contraindicada em casos de lesões graves ou inflamação ativa.


Conclusão

A mobilização neural é uma ferramenta eficaz no manejo de disfunções relacionadas ao sistema nervoso periférico, com benefícios comprovados em condições como lombociatalgia, STC e lesões do plexo braquial. No entanto, sua eficácia depende de uma avaliação criteriosa e da escolha adequada dos parâmetros de aplicação.

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Atenciosamente,
Prof. Vitor Peixoto


Referências

  1. Ellis, R., Hing, W. (2015). Neurodynamic Mobilizations for Sciatica: A Systematic Review. Journal of Manual Therapy.
  2. Pires, M., et al. (2021). Neural Mobilization and Core Stability for Chronic Sciatica: A Clinical Trial. Brazilian Journal of Physiotherapy.
  3. Cacciatore, F., et al. (2016). Mobilization for Brachial Plexus Injuries: A Randomized Trial. Journal of Manual Therapy.
  4. Nee, R., Jull, G. (2017). The Efficacy of Neural Mobilization for Carpal Tunnel Syndrome. Physical Therapy Journal.
  5. Basson, A., et al. (2020). Neural Mobilization Post Lumbar Surgery: A Systematic Review. Spine Journal.

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